A Obra

Neste tópico devem ser colocadas as opiniões sober a obra de GRRM, principalmente sobre As Crônicas de Gelo e Fogo (ACdGF), mas como ele e um autor muito prolífico e deve ter por aqui fãs de "Além da Imaginação" (Twilight Zone), para a qual ele escreveu alguns episódios, tudo é permitido comentar.

Por falta de tempo, no momento, depois escrevo aqui o que desejava falar a respeito de ACdGF...

Há um bom tempo que ando querendo escrever uma resenha sobre os livros - desde o primeiro até o terceiro, quando terminá-lo -, mas a velha e boa preguiça me impede. Talvez esse tópico seja o início de minhas interpretações e opiniões básicas sobre a obra.

Bom, assim como muitos aqui, acredito que Martin segue um princípio básico em sua escrita: a falta de preocupação com o pudor e os limites com as palavras. Tanto é que muitas vezes a linguagem dos personagens acaba baixando realmente o nível, e as descrições são extremamente cruas e realistas. Não é uma crítica. Acho isso bem interessante, porque as coisas se resolviam assim mesmo no contexto histórico da saga, sem nenhum rodeio.

Martin é um verdadeiro gênio no sentido de saber quebrar o paradigma do bem x mal (e por isso eu critico a teoria de Jon ser o Azor Ahai, ok jonzetes da vida? ) e criar toda uma rede complexa de relações que vão muito além disso, envolvendo os próprios interesses de cada personagem/facção, sejam eles vingança, ambição, ou pura trairagem mesmo. Ele realmente distribui vários lados na história que geralmente, não devem ser interpretados como corretos ou não, apenas como pontos de vista diferentes; claro que com o limite do bom senso, pois não dá para querer justificar certos atos extremos de alguns personagens.

Sem falar que as várias pistas que Martin joga na trama através dos diálogos, ou mesmo das entrelinhas, e que acabam nem sempre levando para as soluções corretas dos enigmas e teorias mostra o quanto ele sabe conduzir bem essa história complexa e profunda. Com relação à parte técnica em si, na minha opinião, Martin não abandonou seu talento de roteirista no sentido de saber construir muito bem as cenas, alternando diálogos fantásticos com momentos de tensão e outros elementos como canções enquanto distribui as descrições para tornar tudo mais dinâmico

Spoiler:

, e assim progredir com cada cena. Acho tudo isso muito fantástico.

"Debaixo do mar os peixes grandes comem os pequenos. Eu sei, eu sei, ei, ei, ei."
(Cara Malhada)

Pra mim a obra é realmente excelente, fico me perguntando se algum dia terá outro escritor que escreva tão bem como o Martin apesar dele não ter pudor nenhum de usar certas palavras na sua obra, acho que isso é uma característica que marca nele...nunca vi um escritor ter uma habilidade de criar a cada perspectiva de personagem, um clima, um ambiente que nos deixe pensando no que acontecerá no próximo capitulo que este se encontrará.
Martin, sabe como introduzir e continuar com a narrativa sem se estender em enrolações como alguns autores, uma vez estava lendo Crônicas do Mundo Emerso...e me deparei com uma enrolação de manuscritos a cada início de capitulo. O que não acontece na saga de ASOIAF que te leva direto ao ponto principal e te faz pensar, criar teorias, torcer, amar, chorar, rir e depois de tudo isso te faz dizer: "krlho, mudou tudo...como ele conseguiu fazer isso?"!

Alguém tem a relação de livros que ele escreveu além das Crônicas de Gelo e Fogo e se algumas já estão traduzidas para o português e disponível no Brasil? Alguém já leu?

O que mais me impressiona nos livro de Martim é o excesso de informações que ele consegue condensar em algumas páginas.

Por exemplo, já li uma 10 vezes o Prólogo do livro 5 e, cada vez que leio, descubro coisas novas, que não havia percebido antes. Mesmo montar uma visão linear da história ali contada é extremamente complexo, mas está tudo ali.

Diz-se que uma verdadeira obra de arte é aquela em que, cada vez que você a vẽ, ouve ou lê, descobre coisas novas. Não sei se essa serie de Martin se enquadra nessa categoria, mas se não se enquadrar está bastante próxima.

Única coisa que li dele, além de ASOAIF, foi Tales of Dunk and Egg, que, mesmo se passando em Westeros é bem diferente da obra principal

Leyton Hightower escreveu:

Alguém tem a relação de livros que ele escreveu além das Crônicas de Gelo e Fogo e se algumas já estão traduzidas para o português e disponível no Brasil? Alguém já leu?

Aqui no Brasil, não tem (quer dizer pode ter até em inglês, mas em português não - pelo menos eu desconheço). Entretanto o sítio da editora portuguesa, Saída de Emergência tem 3 páginas com os livros dele que foram traduzidos lá:

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George tem algumas antologias de contos fantástico em que inseriu um ou dois contos seus, mas a maioria dos contos são de outros autores. Não sei se essas antologias foram publicadas em Portugal, Mas o nome dele é uma mina de ouro...

Parece que ele está trabalhando numa nova série para TV (enquanto isso as Crônicas de Gelo e Fogo continuam no território para lá da Muralha (na Geladeira)!

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Ele tem um outro livro de vampiros também, Sonho Febril (Fevre Dream). Mas só foi publicado em Portugal.

Valeu erreve, pelo menos já está traduzido para o Português, nem que seja o português genuíno, melhor do que ter que traduzir do inglês.

Pena que não tenha no Brasil ainda. Vou ver se tem algum exemplar na saraiva ou em outra distribuidora.

Obrigado pela dica.

O erreve levantou um ponto importante da obra de Martin: cada vez que você lê, encontra uma informação que você havia desconsiderado ou não absorvido em leituras anteriores. Isso acontece em SdA, Já li umas dez vezes e ainda me surpreendo com a riqueza de detalhes no mundo criado por Tolkien, a sutileza e complexidde dos cenários.

Voltando a Martin, é importante notar que sua escrita está mais próxima de nosso estilo de vida, nossa visão de mundo. Podemos observar que tudo em sua obra está interligado, nada é desprovido de sentido e esse mesmo sentido está oculto, e só pode ser desvendado através do estabelecimento das interligações. Isso é o que chamamos de conspiracionismo, segundo Michael Barkun em "A culture of conspirancy". Martin apresenta/escreve sua obra através da visão de mundo que vivenciamos: como interpretamos o cotidiano, a vida. Por isso nos identificamos tanto com suas personagens.

Além dessa empatia, outro ponto que vejo como fundamental para ASoIaF é a falta de cenário, de história do mundo. Essa ausência permite que Martin possa elaborar seu enredo com total liberdade. A medida que a trama avança, ele pode simplesmente inserir um acontecimento pretérito a fim de justificar o presente. Vide isso em ADwD, quando revela uma ação de Varys quando do Saque a King's Landing. Ou mesmo a ausência de uma cronologia completa, que nos permitisse saber quando Jon Snow nasceu, e onde Ned Stark estava nove meses antes e onde ele estava quando do nascimento da criança. Acredito que ele não se deteve na construção do passado mais como uma ferramente do que mero desprezo.

E um último ponto que gostaria de levantar: a ausência de um narrador faz com que somente saibamos o que as personagens aprendem/aprenderam, e o que deixam transparecer. Isso realmente é genial. Ler um POV de um personagem e não saber se realmente ele o que ele disse é verdade dá uma dinâmica surpreendente a trama. Ou então, as ações sutis dos personagens. Vide uma certa torta - três tortas na verdade - em ADwD.

Uma coisa que é bem caracteristica da escrita atual é a visualidade. Martin é roteirista, por consequencia seu estilo é completamente visual, apesar de não abusar das descriçoes como Tolkien, mas é visual como teve, cinema. Tolkien descrevia como se pintasse um quadro, com detalhes que seriam importantes pra isso, já lendo Martin vc consegue ver até o movimento de câmera (bem, sou suspeita porque faço cinema). Ele vai um pouco a detalhes de coisas que chamariam nossa atencao numa imagem, mas não descreve a ponto de ficar cansativo, escreve de uma forma mais rápida, ativa (esqueci palavra que queria usar aqui...)

Quanto a outras críticas a ele, como as cenas de batalha que são poucas e pouco detalhadas e não tao bem escritas e belas como o Bernard Cornwell, eu curto. Não tenho paciencia pras 1000 cenas de batalha do Cornwell, apesar de adorar muito e ter seus livros autografados, mas o que acho perfeito no Martin é que ele não se prolonga nisso, pra mim escreve no ponto (as vezes passa, mas creio que ele escreva pra agradar aos fãs, sempre que o vejo falando nisso, parece q nem ele gosta muito de escrever sobre batalhas). Pode ser coisa de menininha, ou não, mas acho essas cenas chatas, gosto mesmo da rede de intrigas (sempre adorei Varys e Petyr).

Bem, acho que é isso.