Categoria: gen/POV
Classificação: G
Capítulos: 1
Completa: [ X ] Sim [ ] Não (one-shot)
Spoilers: do livro 3 – A Tormenta de Espadas.
N/A: segundo boatos nos Sete Reinos, Euron Greyjoy enviou um assassino da seita dos Homens Sem Rosto para matar seu irmão, Balon, e tomar o trono das Ilhas de Ferro. No entanto, na fic eu me coloquei na liberdade de mudar esse detalhe e colocar um assassino qualquer ao invés de um Homem Sem Rosto, como aquele que foi enviado para matar Bran. Como não conheço muito sobre esse grupo e não queria ter de estuda-los para escrever a fic, modifiquei esse detalhe para que nada ficasse infiel à criação do Martin. Como também não se sabe a maneira exata que Balon morreu, acrescentei um toque de originalidade.
O mar não tinha limites. Ao contrário do resto dos Sete Reinos, as Ilhas de Ferro poderiam ser consideradas naturalmente livres, pois não eram delimitadas por terras ou castelos. Pyke era o seu centro, mas o sangue dos Homens de Ferro ainda imperava nos Greyjoy, e eles não envergonhariam o antigo nome do Rei Urron se mantendo quietos ali. Para isso, sabiam a arte dos navios para viajar aonde quisessem, e Balon nunca deixaria que deixassem de aprendê-la. Era necessário que honrassem o estandarte da lula-gigante com alguma coisa, e para isso precisariam dominar uma técnica que mais nenhum homem mole comedor de grama saberia. Seus irmãos e também Asha sabiam que estariam atraindo a ira e o desprezo do Deus-Afogado se não respeitassem seus antigos costumes. E eles respeitavam.
Starks, comecem a navegar primeiro antes de me desafiarem, repetiu Balon para si mesmo como uma prece. Fez o mesmo com os Lannister e Baratheon.
Nunca me curvarei a nenhum representante desses cães, constatou, lembrando-se da fraqueza da florzinha morta dos Tyrell, Renly, do rapaz fraco Joffrey, do extremamente honrado e orgulhoso Stannis e também... de
Robb Stark, o Rei do Norte. O nome lhe soava como uma faca atravessando o peito. Filho do homem que destruiu seu poder. Herdeiro daquele que levou três dos seus filhos. A imagem de Pyke sendo atacada, com Thoros de Myr e sua maldita espada flamejante liderando a ofensiva, voltou à sua mente. Sentiu o orgulho envenenado.
Eles deviam me temer, eu devia ser único!, esbravejou uma voz em sua mente.
Na época em que Theon voltara para casa, desejou causar grandes problemas aos Stark novamente. Quis fazê-los se preocupar com ele, terem medo dele.
Eu queria me tornar uma grande dor de cabeça para o Rei do Norte e seus homens, relembrou. Era necessário para que, no futuro, o reconhecessem como um grande líder. Um homem que não precisava de nenhum rei para comandar sua família, que mantinha seu próprio ferro longe de qualquer juramento de lealdade. Havia se curvado aos dragões no passado, mas por puro respeito aos seus ideais, e não por submissão. Não via nada de especial em reis usurpadores do verdadeiro lugar dos Targaryen, como Robert Baratheon havia sido. Tentou usar Asha para ajudá-lo na tarefa de dominar o território dos lobos, e ela conseguira. Já havia tomado grande parte de Bosque Profundo. Mas quem lhe trazia mais aflição e havia ferido seu orgulho era Theon. Sabia que os Stark e seus deuses do Norte o tornaram covarde e incapaz.
Quando o filho perdido retornara de Winterfell, Balon reconheceu imediatamente os ideais ambiciosos que tinha sobre sua posição privilegiada na família.
Minha intuição já me dizia que ele iria desobedecer minhas ordens, mas mesmo assim confiei nele. Amaldiçoou a si próprio com isso. Talvez fosse a vontade de ver um filho homem lhe trazendo orgulho, como Rodrik e Maron lhe traziam. Uma lágrima escorreu por seu rosto, e aquilo lhe trouxe tanta raiva, que teve vontade de se jogar para as águas naquele momento. Desde quando um Greyjoy chorava? Aliás, um Greyjoy nunca se afogaria. “O que está morto não pode morrer, mas torna a erguer-se, mais duro e mais forte”, lembrou-se da voz do irmão Aeron Cabelo-Molhado lhe repetindo o lema de seu deus.
O som do mar batendo nas pedras novamente lhe trouxe tranquilidade. Já estava anoitecendo e começava a chover. Balon andou mais um pouco pela ponte, observando o castelo de seus ancestrais. Não importa o que lhe fizessem, mas nunca lhe tirariam Pyke. Já havia perdido todos os filhos, incluindo Theon, do qual não se ouviam mais notícias desde que Winterfell fora queimado. Restava-lhe apenas Asha com seu machado.
Ao menos, matou os dois fedelhos, relembrou. Seu filho não poderia ser um completo incompetente. Alguma dor ele trouxera à Senhora Stark, que devia estar sofrendo como ele sofreu.
Duas cabeças por dois guerreiros que perdi, pensou.
A maresia secou qualquer início de uma nova lágrima que pudesse brotar em seu rosto, molhado apenas pelos grossos pingos que despencavam no escuro.
Sou um Homem de Ferro, pensou, envergonhado.
Um filho do Deus-Afogado não deve ficar se lamentando. Que o sal e as ondas se abatessem pelos corpos de todos os Stark.
E depois, cuido dos outros... de Cersei, de seu garoto desequilibrado, de Lorde Tywin, dos irmãos de Robert... Um dia, Balon Greyjoy ainda ostentaria sua própria coroa de Rei das Ilhas de Ferro e restauraria o Costume Antigo. Mas naquele momento, precisava apenas se retirar da ponte oscilante. O mar estava agitado e tempestuoso naquela noite, e apenas os relâmpagos iluminavam o céu. Eram sinais do que Balon ainda viria a fazer como vingança. Um trovão ecoou em seus ouvidos, mas não temia a natureza. Nada lhe trazia medo.
Quando se dirigia novamente ao castelo, seus pensamentos raivosos foram interrompidos por sons de alguém pisando na madeira. Ergueu a cabeça para a frente e se deparou com um vulto que se mantinha a uns dois metros de distância dele. Não conseguia ver quem poderia ser. Hallanys? Não. Meistre Wendamyr? Não havia motivos para vir encontrá-lo. Dagmer Boca-Rachada? Não sabia mais onde o mestre de armas estava. Helya, sua governanta, também não subiria a ponte para ir vê-lo. Enquanto tentava se lembrar de mais nomes, o vulto se aproximou e Balon viu mais detalhes. Vestia um manto escuro e estava encapuzado. Por baixo do capuz, pequenos olhos negros se fixaram nele. O homem levava uma adaga em sua mão, muito embora Balon só a tivesse visto quando ele já estava bem próximo dele. Desembainhou a espada, mas a adaga já se encontrava em seu pescoço.
- Quem o mandou aqui? – perguntou, já compreendendo qual era o seu destino. Mas não morreria sem saber quem foi. – Quem o enviou? – perguntou novamente, ao sinal de silêncio do assassino.
Quando o enviado falou, foi num sussurro mais baixo que os trovões, mas mais perturbador que as rajadas de vento.
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Euron – o nome soava mais imponente que o som do vento conduzindo as fortes ondas que batiam nas pedras de Pyke. Doía ter de ouvi-lo novamente. Tentou erguer a espada, mas o homem o segurou e sua visão se virou para o muro da ponte. – Olho de Corvo – o assassino riu e Balon sentiu o frio sabor da lâmina em contato com a pele de sua garganta. A partir de então, várias divagações inúteis o atormentaram, rápidas como uma chuva de flechas.
Quando pensou no irmão, Balon não conseguiu se lembrar de mais nada. Fazia tanto tempo, e o novo corte ardia em sua pele. O ar havia ficado mais frio, enquanto sentia sua visão obscurecer. Retornou para as velhas lembranças. O primeiro rosto que voltou à sua memória foi o de Theon, ainda criança. Desejou ensiná-lo a navegar novamente. Seus outros filhos também apareceram, e estavam todos felizes. Sentiu-se um idiota.
Não posso pensar agora na felicidade de minha família... Devo me preocupar com os Stark, com os Lannister, com todos eles, que me tiraram a chance de proclamar a justiça dos Homens de Ferro... A dor era tamanha que sentiu que iria perder o equilíbrio. Se agarrou à amurada da ponte, sentindo o corpo oscilar em direção às pedras. Os pensamentos se confundiram e se embaralharam quando suas mãos soltaram a pedra e ele foi de encontro à água. Aos poucos, sua consciência se perdia. O mar estava realmente furioso naquela noite.
E agora, o que será de nós?, a pergunta penetrou em sua mente quando caiu. A água se avermelhou com seu sangue quando levou a mão à garganta. Enquanto a imensidão sem limites o cercava, pensou no que aconteceria com Asha e as Ilhas de Ferro. Em como os Homens de Ferro ainda conseguiriam manter sua antiga honra. A visita inesperada acabou com seus planos. Quando a ideia estava formada em sua mente, alguém arruinara tudo. Uma pessoa que Balon julgava que nunca mais lhe traria ódio e rancor destruíra suas esperanças de arruinar a vida de todos aqueles que o impediram de trazer de volta o domínio Greyjoy.
Eu iria destruir todos eles, mas me esqueci de um inimigo do meu próprio sangue... E agora, haverá batalha... Victarion não se manterá calado... E Asha, oh, Asha, tente manter a paz, do contrário nós deixaremos de existir... Não façam nada, não podem... eu preciso... impedi-los de qualquer loucura desse tipo... Tentou lutar contra o mar impiedoso, mas as forças se esvaíram do seu corpo. Sentiu-se mais uma vez estúpido. Era óbvio que o mar era invencível, e se o Deus-Afogado quis levá-lo, nada poderia fazer contra isso. Apenas precisava evitar mais um banho de sangue, mas as ondas não o deixavam e continuavam empurrando seu corpo para baixo. Quando seus pulmões se encheram de água, Balon Greyjoy afundou e tudo escureceu em meio ao sal. Seu último pensamento foi que o kraken não deveria chorar.